sábado, 22 de agosto de 2009

Os Microrganismos Tornam Nosso Planeta Habitável

Charles Darwin, o formulador da teoria da evolução das espécies, foi representado em numerosas caricaturas como um macaco, em referência aos remotos ancestrais da humanidade. Como os cartunistas apresentarão o biólogo molecular Craig Venter, que, segundo a reportagem “Código da Vida, Parte II”, quer brincar de Deus? O texto informa que, para isso, o cientista americano pretende criar uma sequência artificial de DNA que funcione como se fosse de um ser vivo. A matéria-prima é o código genético de microrganismos, coletados no decorrer de uma viagem de iate ao redor do mundo – a empreitada já mereceu comparação com a célebre expedição de Darwin a bordo do navio inglês Beagle. É cedo para dizer se Venter conseguirá “fechar todas as lacunas que Darwin deixou”, como ele declarou numa entrevista.

O número de microrganismos conhecidos é pequeno se comparado à quantidade catalogada de insetos e plantas com flores, por exemplo. Então por que os cientistas estimam que haveria de 10 a 100 milhões de espécies de microrganismos?

O conceito de espécie foi desenvolvido para organismos multicelulares, como animais e plantas, que apresentam reprodução sexuada. Espécie seria um conjunto de organismos capazes de gerar descendentes férteis. Essa definição não se aplica aos microrganismos, particularmente os vírus e as bactérias, pois estes não apresentam reprodução sexuada. Dessa forma, registrar o número de espécies de microrganismos confunde-se com a tarefa de catalogar sua diversidade genética. É o que torna Craig Venter uma versão contemporânea de Darwin.

A microbióloga Lynn Margulis aposta fortemente na noção de que, no fundo, os organismos mais complexos não passam de sociedades de células cujo fundamento metabólico foi diretamente herdado dos microrganismos. Ela foi autora da idéia da endossimbiose serial ou simbiogênese. Segundo essa teoria, a evolução dos protoctistas (organismos simples que apresentam membrana interna definindo o núcleo) e dos organismos multicelulares, como animais e plantas, resultaria de processos de união entre bactérias de vários tipos, formando estruturas cada vez mais sofisticadas. Uma evidência disso seria a presença de organelas celulares chamadas mitocôndrias, dotadas de material genético próprio. Essas organelas, praticamente universais entre animais, plantas e protoctistas, assemelham-se a bactérias em termos estruturais e genéticos.

Nos últimos anos, a ciência vem constatando a imensa distância genética entre os microrganismos. Isso reforça a idéia da sua antiguidade e de seu papel na produção da base genética da diversidade biológica. Em 1985, o americano Carl Wöese estudou o grau de parentesco entre seres representantes de toda a diversidade planetária. Para isso, utilizou um material que todos eles possuem: o ácido ribonucléico (RNA). Assim, as semelhanças e diferenças entre essas moléculas seriam evidências de um distanciamento evolutivo maior ou menor entre os organismos. Sua descoberta mais impressionante foi de que as bactérias são constituídas de estruturas muito distintas entre si. Esse grupo foi dividido nos domínios Archaea e Bacteria (reinos Archaea bacteria e Eubacteria). O restante dos organismos foi agrupado no domínio Eukarya.

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